Que tal essa tal afetividade?
É ela que permite a comunicação cordial nas relações interpessoais; a simpatia e a projeção ou identificação com o outro e a compreensão. É ela também que se manifesta na procura do gozo disseminado da volúpia física. Quando na busca do poder se torna ambição e invade o mundo do saber e do pensamento constituindo adesão subjetiva de todo ser a sua certeza, apego fanático, agressividade, paixão. Ligada ao imaginário dá substância e realidade aos fantasmas, deuses, mitos e idéias (Morin,2007).
Pensar a afetividade exige, muitas vezes, expressar o que ninguém expressa, por constrangimento e por condicionamento já que, é inculcado ao longo da história, nas relações de gênero, alguns valores morais e atuações pré-determinadas que garantem a "civilidade" e o controle social.
Nesta lógica, mulheres são seres doces destinadas a compreender, acalmar e servir, sem lamento. Crianças, são anjos que caíram do céu, e os homens? Aha... os homens. Estes são fortes, destemidos e protetores. E tudo que fugir do gênero homem e mulher, é uma questão polêmica com direitos individuais e sociais a serem discutidos e talvez, considerados.
O emaranhado confuso de valores que constitui a relação entre os humanos determina também, quais são as manifestações legitimas ou não da afetividade. Neste jogo, vale para a mulher seguir os ditames de uma excelente cuidadora dos filhos, do marido, do lar e contemporaneamente, dos seus afazeres no mercado de trabalho. No entanto, seguir as metas competitivas do mercado de trabalho induz as mulheres a repensar seu papel como cuidadora do lar e até mesmo, de outros seres como, os filhos.
Como em uma armadilha do capitalismo, somos hoje aquelas que no passado lutamos pelos direitos individuais, políticos e sociais que garantiriam no cenário do mundo a nossa atuação pelo voto, nossa escolha de engravidar ou não, pelo uso do anticoncepcional e mais, pelo lugar no mercado de trabalho, em igual condição a dos homens. E como estamos hoje? Encurraladas pelo excesso de atribuições e submissas as dúvidas dos patrões, familiares e até de vizinhos sobre a nossa "competência" em dar conta de tudo isso. Ainda numa condição desigual, as mulheres sofrem caladas com os baixos salários, assédio moral, excesso de horas trabalhadas dando conta de uma tripla jornada, e ainda, reféns de um estereótipo de super mulher.
Não é diferente essa condição, quando precisam encarar o papel de mãe. Já na sala do parto, quando nasce o bebê, ela sente o primeiro recado implícito: "ficarás sozinha, muitas vezes, e estarás com teu corpo vulnerável, mas, precisas mostrar felicidade, sem reclamar, pois teu filho nasceu". Após o nascimento da criança, todas as atenções da equipe de saúde e da família se voltam para aquele novo ser. A mulher? Bom...já fez o seu papel inicial, parir.
A mudança de rotina imposta pelo nascimento de um filho, muitas vezes, é encarado de forma solitária e sofrida onde, pouco há espaço para diálogo e cuidado com essa mulher. As primeiras tarefas da maternidade logo focam o bebê: as primeiras consultas ao pediatra, com uma série de informações despejadas pelo profissional e com pouca, ou nenhuma, atenção ao estado da mulher. A pressão social para que a mulher seja uma excelente cuidadora a coloca em estado de sofrimento psíquico produzindo, preocupações exageradas quanto ao desenvolvimento do bebê, e ao seu papel de esposa. É nessa fase, que muitas de nós conquistamos enormes olheiras, e uma aparência de zumbi.
Descrever o amontoado de situações que nós mulheres enfrentamos no cotidiano não busca nos colocar numa posição de vitima, ao contrário requer a enfatizar a importância do cuidado a mulher, quando tratamos do tema afetividade. Dessa forma, pensar metodologias de cuidado com a mulher no pós parto seria uma "boa pedida" para a construção de políticas públicas focadas na humanização.
Para além disso, a reflexão sobre afetividade atravessada pelo turbilhão contraditório do processo de estranhamento nos remete a perceber que esta é construída e não consolidada, como impõe o padrão de "super mulher". A metamorfose do papel mulher nos recria a cada experiência seja como mãe, esposa, trabalhadora.
http://www.amamentareh.com.br/entrevista-com-brooke-shields/
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