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terça-feira, 16 de janeiro de 2024

Um diagnóstico e nenhuma suspeita.

    

       Anos depois da última postagem no blog, em 2015, retorno com o mesmo prazer da escrita e a mesma curiosidade sobre a vida, aliás, ela é cheia de surpresas. Hoje, dedico a minha escrita para a maternidade.  

      Lauren, nasceu linda! Inteira! Lembro que  na gestação minha maior preocupação era ter uma bebê com "deficiência", afinal sabia que o mundo da desigualdade econômica, social e política exigia pessoas "perfeitas" e produtivas. Não queria que nossa filha sofresse qualquer forma de discriminação. Logo que ela nasceu, senti uma força de leoa mas, em seguida, pedi para que meu companheiro verificasse se ela tinha todos os dedinhos...Também, tive medo. Enfim, todos os dedinhos estavam ali. Mas, com o tempo fomos percebendo que havia algo. 

     Apesar da fome que ela demonstrava através do chorinho, as mamadas pareciam que não a fazia bem. Ela atirava a cabeça com muita força para trás após cada mamada e chorava, ainda mais. Tinha fome, mas algo a incomodava. Depois de muitas idas e vindas do pronto atendimento, da médica pediatra, e muitas investigações/exames descobrimos que, a nossa Lauren tinha alergia a proteína animal, soja e banana. Foi um sufoco. 

       A tentativa era alimentá-la apenas com o leite do peito, até o período que fosse necessário para o seu melhor desenvolvimento. Para isso, precisei fazer uma dieta vegana. Isso, em um tempo em que não se achava nada pronto para vender, de origem vegana. Não havia pão, nem lanches, nem embutidos etc...Eram pouquíssimas opções.  Enfrentamos todos os desafios de uma dieta vegana, e aprendemos a cozinhar, chegando a criar uma produção própria para comercialização, a loja virtual "Por Amor: Produtos Veganos e Vegetarianos". Até os 3 anos e 5 meses, da nossa Lauren, tivemos uma dieta vegana. A princípio, estava tudo bem e o seu desenvolvimento atendia os marcos da pediatria. 

      Revisitando o diário, escrito por mim, desde o nascimeno da nossa Lauren, voltei na linha do tempo e percebi muitos acontecimentos ao longo desses anos: a cumpliciade entre mãe e filha, marcado pelo carinho ao me chamar de mãe, com um leve sorriso no rosto, aos 2 aninhos; em 2016, a manifestação da alegria em ver as primas no verão de 2015; o aniversário vegano em abril de 2016, na escolinha; as primeiras frases formadas, em maio de 2016 (atendendo ao que corresponde a faixa etária no desenvolvimento da fala); em 2017, o primeiro ano que a nossa Lauren comeu carne; o ano de 2018, marcado pelas perguntas complexas, tais como a existência de vida em outros planetas etc; 2019, foi o ano marcado pela mudança de escola, e um primeiro registro no diário, onde escrevi sobre o isolamento/solidão da nossa Lauren, onde descrevo as primeiras semanas dela na escola nova: "Nas duas primeiras semanas, encontramos ela deslocada no pátio, aquilo me doia"; 2020, passamos pela pandemia do Covid 19, escrevi no diário sobre a nossa exaustão, isolamento, a alfabetização da Lauren, através de aulas online (e ela consiguiu se alfabetizar, mesmo com aulas a distância!), e as diversas vezes, que teve sinais de irritação e tristeza. Foi também em 2020, que comecei a perceber a falta de interesse dela, para a interação com outras crianças, da mesma idade. 

    Contudo, parecia que estava tudo bem! Desenvolvimento da fala:ok; Desenvolvimento sobre a habilidade de aprender (desenvolvimento congnitivo): ok; Habilidade de manifestar suas emoções: ok; Desenvolvimento social: ok? Na verdade, não tinha plena certeza, mas atribuiua a pandemia e ao nosso restrito circulo de pessoas, a "estranha" habilidade social que Lauren demostrava (gostava de conversar, geralmente, com pessoas mais velhas, não gostava de visitas que domissem na nossa casa (perebia claramente a irritação com a mudança) etc. Somada a essa indagação, acompanhava também a certeza  de que Lauren, tinha muita dificuldade de domir a noite. Eram incansáveis noites acordada, tentando faze-la dormir, desde o seu nascimento, até a idade escolar (9 anos). Depois, a medicação (a melatonina indicada pela pediatra) a ensinou a dormir. Era isso que ela nos pedia diarimente, "me ensina a ter soninho".  

      Ao longo dos anos de vida, da nossa Lauren, o único diagnóstico que tivemos foi de alergia alimentar e isso, nos envolveu profundamente já que, a alergia era severa. Tínhamos um diagnóstico e nenhuma suspeita. Ufa! A alergia não tornava a nossa filha "deficiente". Deficiente, conforme o dicionário  Oxford, refere ao funcionamento falho, falto, que não é suficiente, deficitário, incompleto. Outras referências, tal como o conceito utilizado pela Organização Mundial de Saúde, refere a deficiência para definir a ausência ou disfunção de uma estrututura psiquica, fisiológica ou anatômica fazendo referência a atividade exercida pela biologia da pessoa. A atribuição da "falta de algo", da "ausência de algo" na biologia do corpo humano, parecia uma forma capacitista, de descrever o desenvolvimento atípico de uma pessoa. Gerava medo, e para nós, não havia ausência, não faltava nada, ela era, e é, inteira, completa, e suficiente! Sempre a percebemos assim, nossa completude! Nosso grande amor!❤. Na póxima postagem, ainda continuarei escrevendo sobre a maternidade, demarcando dias desafiadores nas nossas vidas, a partir de junho de 2023.  

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